"Vontade de Acordar"
Sentia-se no ar.
Sentia-se muito leve.
Ouvia o leve bip de máquinas, mas estas pareciam estar a quilómetros de distância.
Sentia-se dorida.
Sentia-se como morta.
Não conseguia mexer nada. Não conseguia levantar a pálpebra do olho, como fazia quando fingia dormir quando a mãe a ia chamar para irem à missa.
Tentou mexer a ponta dos dedos. Tentou outra vez. Não sentia nada. Não sabia se mexeu alguma coisa.
Sentia-se a cair. A cair num poço muito profundo.
Não queria cair. Não queria desistir de tudo. Queria voar, voar bem alto para sair daquele poço, para ouvir bem o barulho das máquinas que estavam a quilómetros de distância, para voltar a fingir que estava a dormir para a mãe não a levar à missa.
Concentrou-se muito. Queria voar. Queria viver. Queria acordar daquele pesadelo.
De repente, levantou voo. Saiu do poço. Estava livre.
Então, com toda a sua força, abriu os olhos.